domingo, 11 de setembro de 2011

O amigo.

Quando eu saí da minha antiga paróquia, traído pela namorada que até ali marcava minha vida, estive muito perdido. Literalmente não sabia pra onde ir. Meus amigos sem nenhuma razão me abandonaram. Nessa situação eu estava inocente e sozinho. Foi aí que fui parar no bairro que seria uma casa pra mim durante 9 anos da minha vida.Não era tão próximo da minha casa.Andando, meio de locomoção que usei nos primeiros anos, eram cerca de 40  minutos. Mas eu ia. Logo me tornei de novo coordenador dos coroinhas. Dessa vez sem nenhuma pretensão. Apenas para ajudar o padre a organizar mesmo as coisas. Virei coordenador do grupo jovem. Uma galera legal. Mandato de um ano, justamente para não me apegar aquilo que na época era meu calcanhar de aquiles: o excesso de poder. E fui para minha alegria: Ensinar. Dar aula. Catequese de crisma. Dentro os quase crismandos que me foram confiados, um me chamou a atenção quase que imediatamente. Magro.De óculos. Com espinhas. Não era um rapaz bonito. Mas era muito engraçado. E bom amigo, como eu viria a perceber depois. Não demorou muito para ele se tornar meu amigo. E de certa maneira, melhor amigo. Nós não tinhamos papos muito profundos. Jogávamos video-game. Futebol. Lanchávamos. E ríamos. Deus...como ríamos. Ela tinha uma paixão platônica por uma menina de 14 anos.Loira.Linda.Faladeira.Aquela que viria a se tornar a mulher da minha vida. Ele falava dos momentos dela. Demorou quase um ano para que ele finalmente nos apresentasse. No final das contas foi o acaso, uma entrada por acaso na rua dela, procurando um teclado para ser emprestado que nos juntou. Ela me convidou para o aniversário dela de 15 anos. Menos de um mês antes era aniversário desse meu amigo. Ele organizava as festas de todo mundo. Me surpreendi ao chegar no bairro e descobri que ninguém tinha preparado nada para ele.Organizei uma mini festinha regada a pizza ,refrigerante e risadas.Ela ligou para dar os parabéns para ele. Ele atendeu. Não era muito bom com as palavras. Tomei o telefone dele e engatei um papo de quase 30 minutos com ela, que culminou com ela aparecendo no final da festa. Naquele momento, roubava do meu amigo a chance de ele ficar com a menina que ele gostava.Naquele dia me encantei por ela. Duas semanas depois num 09 de maio dávamos  nosso primeiro beijo num ponto de ônibus. O resto é história. A despeito do que fiz, ele jamais deixou de ser meu amigo. Muito pelo contrário. Mais maduro, conversávamos mais e em muitas oportunidades ele foi nosso álibi para que pudéssemos ficar escondidos.E quando ela e eu nos separamos pela primeira vez eu o usei. Sim. Era esse o tipo de cara que eu era. Desesperado para ter minha ex namorada de volta, disse que a fake internética que eu havia criado, que lembrem-se era minha ex namorada, estava na cidade. Que havíamos saído nós três.E ele confirmou para minha ex namorada que isso era verdade. Que minha ex namorada inventada existia. Que era linda e maravilhosa. ISSO foi um dos motivos que trouxeram minha ex de volta.Isso, a grave doença e vá lá, talvez o amor que ela sentia por mim.
Ele sempre teve um caráter exemplar. Um cara decente demais. Alias salvo aquele meu amigo que ficou com ela, eu jamais procurei meus semelhantes para ser amigo.Sempre procurei os bons.Os honestos. Os decentes. Era com a vida dessas pessoas que  não mereciam que eu mexia. Era essas pessoas que eu manipulava. Mesmo com tudo isso, eu adorava aquele cara. A vida foi nos afastando. Dedicado ao namoro, eu só queria ser amigo de quem andasse muito com minha ex. Assim não perderia a oportunidade de ficar um minuto longe dela.Não pensem, e isso não é uma defesa, que só eu queria isso não. Éramos muito grudados, também da parte dela.Mas aos poucos, a grande amizade com aquele cara que lembrava e muito o menino que fui virou um coleguismo bastante amistoso. Isso que eu menti ainda durante muito tempo para ele. Não só para ele. Para todos. E nunca, nunca desmenti. Dizia que trabalhava numa grande empresa de marketing.Que fazia propagandas nacionais. Ia em festas incríveis. Fazia a admiração que já era grande, acelerar. Por isso apago as defesas que aparecem aqui nos comentários. Não tenho defesas. Fui de um mau caratismo que não tinha nome. Não há pretensa caridade que resista ao mau que fiz a diversas pessoas, mentindo e mentindo muito. Enfim...meu namoro acabou e o pouco contato que tinha com esse amigo, virou nada. O tirei do facebook, do twitter. O mantive no msn apenas porque sabia que em algum momento, talvez já no final, eu iria querer pedir perdão para ele. Mas ele, veio falar comigo na sexta feira. Como eu estava vivendo um momento relativamente alegre, disse a ele que se ele iria me dizer algo que fosse acabar com isso, que deixasse para uma outra oportunidade. Ele queria apenas e tão somente conversar. Ver como eu estava. Dizer que fomos amigos e ainda uma frase emblemática: "Se algum dia tu mentiu para mim, me enganou ou manipulou, queria que tu soubesse que eu te perdoou." E dentro da bondade que só os privilegiados de caráter tem, tentou me convencer que minha vida tem valor. Que o perdão que eu mais busco,da pessoa que mais busco, vai acontecer. Mas não agora. Porque agora não é tempo. Confirmou meu telefone e disse que vai querer conversar daqui a um tempo. Mas que ele precisa do momento dele.E precisa mesmo. Não fiz  pressão, não o manipulei. Não fiz drama. Nada que mostrasse que não aprendi coisa alguma nesses três meses. Não me elogiei. Li o que ele tinha pra dizer e só reafirmei que a decisão que tomei, do que farei daqui a não tanto tempo é irreversível. A conversa trouxe lembranças que foram dormir comigo na sexta feira. Graças a mim, meus erros, minha canalhice, meu jeito de amar errado, eu perdi a chance de ter um amigo único nessa vida. Na realidade perdi várias chances. Vários amigos. Na mesma proporção que enganei e menti e manipulei essas pessoas. De muito pouco adianta não fazer isso com mais ninguém. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário